Nós, Delirium

"Ela já não era mais Deleite, e as pétalas já haviam começado a cair em seu domínio, se tornando cores viscosas e amorfas, e não havia ninguém com quem ela pudesse conversar…
Então ela foi vê-lo.
Ela se lembra da luz brilhando dourada na sua barba e nas suas sobrancelhas. Ele colocou seu braço envolta de seus ombros, lá permaneceram, em cima da colina (por que isto era na Terra nos dias de seu amanhecer, e até mesmo nesta época ele já passava muito tempo por lá).
E ele disse: “Del, está tudo bem”.
E então se calou e ela começou a gargalhar incontrolavelmente. Ele não disse nada, apenas a segurou até que ela retomasse o controle mais uma vez.
Eles assistiram o pôr do sol por um tempo.
E então ele disse: “Del, as coisas estão mudando”.
E ela sabia que era verdade e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito.”
(Delírio dos Perpétuos)


*Nós, Delirium humanos...
E o silêncio de um abraço ou o "eu vou ficar aqui perto de você" ( a segurança que ansiamos do ESTAR, que trazemos desde a infância, selada por nossos pais - ou seres semelhantes a esses - quando dizem "Vai ficar tudo bem, eu estou aqui" mesmo não podendo fazer nada) podem acalmar "torrentes de águas" internas...
Sem mais palavras...!


Destinado a ...



" Talvez o senhor não tenha vontade de sair - mas será que não vale a pena um esforço? Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. Eu acho que a gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas. Tudo isso estimula a gente, clareia a cabeça, refresca. Por que não?

[...]

"...às vezes o que parece um descaminho na verdade é um caminho inaparente que conduz a outro caminho melhor. As vezes não. O que a gente pode fazer é dar crédito ou não à pessoa. Frequentemente não vale a pena. Frequentemente, vale. "


Abreu, C. F. "Cartas" (Organização Italo Moncot). Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.

Er...





Um momento singelo hoje: garota de 12 anos, chorando muito, desejosa por uma conversa.

- Que foi, doce?

- (lágrimaaass e lágrimaaass... testa apoiada na mão)

- Vou esperar até quando tiver preparada pra falar, tá?

- Tia, tenho 12 anos e minha menstruação ainda não chegou! Eu tenho muita vergonha de falar essas coisas... Mas meu medo é maior dela me pegar desprevenida! E se estou numa festinha, e de repente ela chega e todo mundo...tipo...ficar me zuando?! O Q VOU FAZER? Você sabe o que é isso? Uma coisa estranha me atormentar dessse jeito, não avisa a hora que vem e eu ser obrigada a tê-la?!

E, numa fração de segundos... voltei a um sentimento de infância (é...eu tive sensações estranhas na minha primeira mestruação tbm! ^^ ). Diminui de posto e de nomes que dou à mim mesma, naveguei no meu ser e vi o quanto sou comum, uma criança crescida somente. Que também tenho medos, principalmente do desconhecido. Vi a falta que faz a inocência, a 'liberdade' (liberdade dita aqui como sem obrigações de 'adulto' e vivida em atitudes espontâneas)...
As preocupações e as catástrofes de "gente grande" angustiam e endurecem o coração. O individualismo,o egoísmo e a soberba se consolidam aí. Com isso, se torna difícil dar valor e ouvir à quem está iniciando na jornada que você mesmo já sabe de "có e salteado" (também pode-se perceber esse caso na maioria dos relacionamentos de pais e filhos) ; com as cerviz enrijecidas não pausamos para olhar pra dentro e ver que temos os mesmos medos, muitos outros até, e que não somos super-heróis ("Nem sim, nem não, muito pelo contrário!"), mas demasiadamente humanos ...
Tirando o grande estrago que o crescer pode trazer, é tão interessante ver as coisas de cima, com olhos de quem conseguiu superar o mesmo ocorrido... Ufa!


E, olhando para ela, eu sorria de canto de boca, enquanto contava minha experiência vivida na mesma idade e mostrava que não era tão desastroso menstruar e qual a sua importância para a mulher (apesar de ter seu terrorismo sim: A MALDITA TPM e o incômodo de ter sangue escorrendo de dentro de você sem parar! Fora as escapadas que a QUERIDA menstruação dá, podendo lhe causar grandes constrangimentos diante das pessoas)...

Ela sorriu:
- Tia, por quê você está rindo?

E eu PENSEI:
- Porque você me mostrou que a vida é muito mais do que trabalho, relacionamentos problemáticos e contas à pagar... Que tudo é válido, todas as sensações são válidas, e o que importa de verdade é o que você pode ser depois de tudo isso...



PS.: Pra você entender um pouco mais sobre a tal da TPM -
http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=247&sec=14

...

BREAK ... para oxigenar em silêncio...

(Não quero engessar minha visão nesse post. Sem maiores induções... Porque eu sei que o silêncio pode falar o que as palavras não conseguem expressar, nem em um montão de ditos, tampouco num só balbucio... Como notifica meu querido Saramago, "o silêncio escuta, examina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo." )



Observe, e seja livre para sentir e significar:


















*Ontem, no meu ócio, sem ter quem observar ou o que pensar, descobri essa exposição de imagens do artista canadense Gregory Colbert, chamada Ashes and Snow. O trabalho busca explorar as sensibilidades poéticas comunicadas pelos seres humanos e pelos animais, e o que eles podem partilhar. E... Silenciei em mim... e me toquei que o ser humano possui uma infinidade dentro de si. E a ciência pode até premeditar ocorrências biopsicossociais, mas não poderá decifrá-lo e manipulá-lo ao todo , ainda que ele se permita a isso (por se moldar a clichês e jargões da sociedade). Existe uma latência que, até raras as vezes, surpreende ele mesmo.

"Vê o projetado Você projetando o Projeto projetável..." oO

[ Explanando, resumidamente, as lâminas de Roscharch são lâminas com borrões de tinta sem significação, mas seguem características próprias quanto a proporção, cor, luminosidade, ângulo, equilíbrio espacial. Aquele que vê é que significa-as a partir da ativação mental de rápida associação, voluntária ou involuntária de imagens mentais que fazem parte de sua complexa configuração de afetos e idéias, projetando, assim, o que tem como história. É utilizado como teste projetivo, para avaliação de estrutura de personalidade, revelam como cada indivíduo pode representar a realidade para si, seus recursos intelectuais, dados do desenvolvimento psíquico, das articulações intrapsíquicas e da sua natureza de relação interpessoal. ]


Estudando as lâminas, passei por momentos de tensão (é difícil ver a realidade oculta do outro, e de si mesmo):


Fig 1 - PARA UMA LINDA JOVEM DE SEUS 20 E POUCOS ANOS...

- O que você vê? ( perguntei rindo, levando na brincadeira... afinal de contas não era para ser sério, não tinha perfil de consulta. Nem poderia!)

- Ahhh! Vejo nada! hahaha! Coisa de maluco! MANCHAS!
...[passado 1 min]... Vejo uma mulher nua, assustada, deitada na cama, com seus pés e pernas amarrados a cada ponta dela.*

* Veja a parte branca no meio do desenho, seria a tal mulher... e o fundo preto, a cama.

OBS.: No final das contas, ela lembrou de um caso muito forte na infância : Foi abusada aos 5 ou 6 anos, por um rapaz maior de 18 anos. Não chegou ao ato sexual, mas temeu isso. Ele acuava ela em um quarto e a obrigava a beijá-lo, de todas as maneiras possíveis... até com um bocal de caneta 'Compact'. O maior medo dela hoje: ser estuprada! Sua maior queixa: Nunca conseguiu se entregar de verdade a seus relacionamentos amorosos. oO







Fig. 2 - PARA UMA MULHER ADULTA

- O que você vê?

- Difícil, viu? Muito Colorido! rs [...20 seg...] Dois revólveres acima, unidos e o sangue escorrendo de cada um. E dois revólveres abaixo, menores e unidos também...mas com algo verde escorrendo, pode-se dizer sangue também? rs E essas manchas todas ao lado, só entendo como sangue espirrado... como se tivesse sido de um soco e tiros... não sei...!*

* A imagem cinza em cima no centro são os revólveres unidos, e a mancha vermelha q segue é o 'sangue'. No centro abaixo, quase transparente meio acinzentado está os outros revólveres menores, e o 'sangue' verde.

OBS.: Sua infância foi vivida no meio de muita violência de bairro e doméstica. Além disso, desde sua juventude é espancada pelo marido, e até hoje vive com ele. =/ No dia a dia, é muito assustada. Tem medo de ser assaltada e de bala perdida. E qualquer grito ou discussão alta, já é motivo para tensão interna, sente medo, e fica estática...





Fig 3. PARA UM GAROTO DE 12 ANOS

-O que você vê, tchuquinho? [Tchuquinho foi péssimo, neah? Pra descontrair... QUEBRA-GELOoO! Se não ele não ía me responder, esse menino não pára quieto! Tinha que fazer alguma manha com ele... haisuahsiaus]

- (imediatamente) Duas crianças carregando água do rio... Uma de frente para a outra, cada uma com um balde na mão e tá muito pesado! Tem suor em cima da cabeça delas, vermelho. E no meio das duas, parece... uma borboleta voando para ir embora, para cima! É... e vermelha também!* É... acho que é isso!

* as manchas pretas laterais seriam as crianças, inclinadas, com as mãos segurando os baldes, e a mancha entre os baldes o rio. As manchas nas laterais acima, o sangue vermelho. E a mancha ao centro, entre as pretas, a borboleta vermelha voando.


OBS.: Garoto trabalha desde os 7 anos para seus pais, que precisam de um 'officeboy' para sua empresa de água mineral, e por não terem condições, exigem do filho trabalhos braçais e favores de uma distância a outra.





Hey! VOCÊ FALA DO OUTRO...mas, NA VERDADE AQUELE OUTRO É VOCÊ!
...Sabemos nada do outro, e muito menos de nós mesmos...


E vocês, me relatem... O que podem ver?

"Clariceando"



"Não deveria ter visto. Porque, vendo ela, por um instante arriscava-se a tornar-se individual, e também eles. Era do que parecia ter sido avisada: enquanto executasse um mundo clássico, enquanto fosse impessoal, seria filha dos deuses, e assistida pelo que tem que ser feito. Mas, tendo visto que os olhos, ao verem, diminuem, arriscara-se a ser uma ela-mesma que a tradição não amparava. Por um instante hesitou toda, perdida sem rumo. Mas era tarde demais para recuar. Só não seria tarde demais se corresse. Mas correr seria como errar todos os passos, e perder o ritmo que ainda a sustentava, o ritmo que era o seu único talismã, o que lhe fôra entregue à orla do mundo onde era para ser sozinha - à orla do mundo onde se tinham apagado todas as lembranças, e como incompreensível lembrete restara o cego talismã, ritmo que era de seu destino copiar, executando-o para a consumação do mundo. Não a própria. Se ela corresse, a ordem se alteraria. E nunca seria perdoado o pior: a pressa. E mesmo quando se fogem, correm atrás, são coisas que se sabem.
Rígida, catequista, sem alterar por um segundo a lentidão com que avançava, ela avançava. "Eles vão olhar pra mim, eu sei!" Mas tentava, por instinto de uma vida anterior, não lhes transmitir susto. Advinhava o que o medo desencadeia.Ia ser rápido, sem dor. " [ Lispector, Clarice. Laços de Família. Ed Paulo de Azevedo, 1960. São Paulo. p. 105,106 ]

Strangers...


... Como se fossem letais*, porquê?


* Uma mulher que tem transtorno mental e se veste mal entra no ônibus, todos se afastam, olham estranho e gritam com o corpo: 'nem chegue perto'! ; um mendigo, após receber gratificação, pede a permissão de beijar uma mão... o alguém que lhe concede o desejo, ergue a mão com hesitação e, encostando o queixo no pescoço, disfarça um sorriso amarelo tentando disfarçar o nojo.

[Exemplos simples da semana. Agora... é só acentuar, multiplicar, variar e eis a mazela que se dissemina em nós.]

=T

RELATOS DE UMA MENTE CENSURADA




* Conhecendo um dos mundos particulares ... Não se arme a seus pré-conceitos, mas se abra para a 'sophia' da 'psiqué' (conhecimento da alma, mente) de um dos transeuntes do nosso habitat.




Posso me apresentar como Sofia Zeyg. É melhor assim.

Sábado, 31 de Julho de 2010
Sim...mais uma vez voltei minha mente ao pensamento que tanto fugia: Será que Deus se disponibiliza a curar doenças mentais degenerativas?
Minha avó com Alzheimer foi o estopim para esse infame pensamento, que me persegue até hoje. Ela não fala com propriedade nem de forma autônoma, repete constatãntemente o que o outro diz; seu vocabulário sempre é o mesmo; não demonstra sentimentos, seu semblante é frio e seu olhar, vazio; a cada dia que passa se torna mais agressiva e não há um porquê e nem ela sabe comunicar o quê; perdeu por completo a motricidade; esqueceu os nomes dos objetos, das pessoas, dos familiares, não reconhece os semblantes. Fico um pouco inconformada e tremendamente triste ao ver pessoas deixarem de ter o que há de mais valioso para um homem que é o entendimento e o poder de se comunicar com o mundo por essa tradução do cognitivo, que acaba se convertendo em linguagem (verbal e não verbal).
Sinceramente nunca ouvi um relato de uma pessoa afetada na sua faculdade cognitiva que tenha sido curada...Nunca ouvi, e nem vi.
Será que há uma regra de Deus para não curar tais pessoas? Ou talvez não seja necessário curá-las, sei lá...Porque (parando para analisar), a maioria das pessoas que ficam dementes ou “loucas” tem um senso religioso: falam o nome de Deus sozinhas, rezam e oram (mesmo que inconscientes). Ainda que todas elas sejam esquizofrênicas, por quê (em sua maioria) direcionam-se ao reino espiritual, às entidades do céu e inferno? Me parece um grande mistério.
Muitos viram pra mim e falam: “Não se deve questionar Deus, nem querer saber de coisas misteriosas.” Pura hipocrisia! Um bando de hipócritas e fracos que dizem que não pensam, não questionam, mas na verdade fogem de seus próprios pensamentos que podem acabar com sua fé. Aliás, que fé que eles têm? Se na verdade tivessem fé, questionariam, não teriam medo de “desventuras em série”, mas se aprofundariam em busca dos próprios mistérios de Deus, aos quais Ele mesmo é quem determina mostrar ou não. Não acredito que a fé seja tão burra assim, a tal ponto de fugir de perguntas (se ela já tem sua Verdade maior, pra quê fugir de questões do meio?). Não é duvidar da Verdade, mas trazer questões da relação dessa Verdade com o meio. Mas pelo contrário, a fé é tão certa e certeira que obtém suas convicções a partir do aprofundamento no mistério do vácuo existencial. A fé desventura o que não existe, o mistério das coisas que não se vêem, obtendo a certeza do presente e do por vir. Se as pessoas não fugissem de suas questões mais profundas e buscassem a resposta em Deus e na Sua Palavra, talvez muitas não se deixassem ser levada pela Tsunami das dores e injustiças da vida, mas estariam consolidadas na Rocha (em um conceito Rochoso) e nunca seriam levadas por ventos de doutrinas, “achismos” e incredulidade.
Crer é pensar.
Pra quê tentar negar a realidade? Penso que seja necessário trazer Cristo para o mundo real, e não mantê-lo em um céu intocável e tentar viver em si mesmo uma vida ilusória como se fosse um pequeno deus, distante de tudo e de todos. Essa farsa não pode durar por muito tempo e o baque da queda dessa transcendência pode ser mortal.
As questões não me fazem duvidar do que creio, mas me firmam nEle e mantém viva em mim a certeza de que Ele está no controle de todas as coisas e que ao ser humano não está destinado o poder e a equidade.
Diante de tudo isso, o que me mantém viva, é a transcendência a um Lugar mais alto do que eu... "Em cima da Pedra mais alta". E é lá que vejo além e busco esse além... Pensando diferente da sociedade doente e respirando outros ares. Ares que me oxigenam e que por mais que rasguem meu pulmão (por ser ar novo e intenso) pelo menos purifica meu ser.



Fases da vida ^^


...

E me pergunto qual a diferença entre os humanos... 

Talvez a forma e a intensidade que cada um passa por elas.
Em tese, seres humanos com fases comuns à vida... mas em vivência, comumente humanos?

...

Chapeuzinhos quando (não) crescem...


Entendendo as histórias que podemos ser...

"Vemos aqui que as meninas e, sobretudo, as mocinhas lindas, elegantes e finas, não devem a qualquer um escutar. E, se fazem-no, não é surpresa, que do lobo virem o jantar. Falo "do" lobo, pois nem todos eles são de fato equiparáveis. Alguns são até muito amáveis, serenos, sem fel nem irritação. Esses doces lobos, com toda a educação, acompanham as jovens senhoritas pelos becos afora e além do portão. Mas ai! Esses lobos gentis e prestimosos são, entre todos, os mais perigosos." Da obra original de Perrault (Histories ou Contes du Temps Passe, Avec des Moralités. Paris: Barbin,1967), in TRATAR, Maria. Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

" Se a criança não soubesse que há um lobo adulto rondando lá fora, não teria tranquilidade para ficar oculta sob o tecido, teria medo de nunca sair de lá. É o lobo que a fará sair de seu esconderijo.
[...]
Existem adultos que são completamente alheios às sutilezas eróticas que estão presentes na vida cotidiana
[...]. São aquelas mulheres ou homens que nunca percebem quando estão sendo olhados, dificilmente arranjam parceiros em função de que não sabem, nem rudimentarmente, praticar o jogo da sedução e se queixam de serem invisíveis, quando na verdade são é cegos para esse assunto.
Quando enfim algo acontece para esse tipo de inocentes, eles põem tudo a perder por só entenderem as coisas depois da noite ter passado. Muitas vezes, se envolvem em relacionamentos
em que são usados das mais diversas formas, já que a passividade infantil é a única modalidade de relação que têm a oferecer e sempre há quem tire proveito disso. [...]
A ingenuidade adulta é uma das mais sérias, causa uma série de embaraços, atrapalha ou inviabiliza a vida amorosa das pessoas envolvidas e, pior, geralmente não é reconhecida como um grande problema. A pessoa que a possui se sente pura e boa, enquanto os outros é que são cheios de hipocrisia e intenções escusas. Pois bem, uma provável fonte dessa ingenuidade provém de uma recusa inconsciente em admitir o preponderante papel do sexo na nossa vida.[...]
Acima de tudo, essas pessoas não querem saber da diferença dos sexos, já que o amor e o exercício da sexualidade são movidos por uma sensação de que somos incompletos, uma metade em busca da outra.
[...]
Aceitar a diferença dos sexos traz, como decorrência, a perda não só da inocência, como também da onipotência infantil. É difícil aceitar que há algo em nós que sempre dependerá do outro para ser conquistado. Uma vez sexuados, seremos para sempre incompletos. Por mais que um homem se conecte com seu lado feminino e vice-versa, sempre será o outro lado. Amar é...ser incompleto. Por isso, essa ingenuidade é defendida com unhas e dentes, para voltar a ser algo tão valioso como acreditávamos ser quando bebês e perdê-la é ficar à mercê do amor. Homens ou mulheres, por mais principescos ou poderosos que sejam, se estiverem em busca de algum amor, estarão lidando com a incompletude."
Corso, LInchtenstein Corso... Fadas no Divã: Psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre. Artmed, 2006.